09/10/2009 - Mercedes Sosa e Herta Müller
Poucos dias depois de perder Mercedes Sosa, o mundo ganhou Herta Müller. À primeira vista, não há nada que as associe. No entanto, caminharam sobre a mesma corda bamba, entre a arte e a política. Nas terras brasileiras o nome da cantora argentina sempre foi mais popular do que o da escritora alemã, nascida na Romênia. Mercedes já gravou com Chico Buarque, Milton Nascimento, Maria Bethania e com outros ícones da nossa música. Já Müller, tem somente uma obra lançada no Brasil. Um livro chamado "Compromisso".
Não é de hoje que o mundo valoriza manifestações artísticas compromissadas com causas políticas, como as lutas em prol da democracia, da liberdade, da igualdade. Seja por meio de textos ou canções, a arte sempre foi uma pedra no sapato dos ditadores. Pode parecer absurdo, mas é possível combater fuzis com versos. A emoção, como a pólvora, tem um grande poder de explosão. Cantores e escritores são grandes responsáveis por acender esse fogo. Por essas e outras, os artistas são disputados por campanhas eleitorais e partidos políticos. Pode observar: todo grande líder tem um artista ao seu lado, seja para aconselhá-lo, para iluminá-lo ou guiá-lo.
Herta Müller, conhecida por obras como "Terras das Ameixas Verdes", dedicou sua escrita aos amigos romenos mortos sob o governo comunista de Ceausescu. Os aplausos de agora se contrapõem ao medo. A senhora discreta de olhos esverdeados já foi duramente perseguida pela polícia secreta romena. Mercedes Sosa, a voz dos sem voz, foi banida de seu país, vivendo alguns anos na Europa. No entanto, voltou e cantou ao sonho de uma America livre do imperialismo norte-americano, do consumismo e das desigualdades sociais.
Müller acaba de ganhar o Nobel de Literatura. Mercedes, antes de partir, ganhou um Grammy Latino. Curiosamente, o mesmo mundo que censura, que tortura, que cala, premia os que desafiam a política com boas doses de arte. Será que é só disfarce? Mercedes Sosa e Herta Müller que o digam...
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