Daniel Campos

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14/04/2010 - Luto oficial de três dias

A morte de alguém famoso ou uma tragédia coletiva são fatos que levam à administração pública decretar luto oficial por alguns dias. Na maior parte das vezes, três. As bandeiras hasteadas a meio mastro indicam esse estado de pesar. Mas no que isso diminui a dor da perda? Para além do sinal de respeito e tristeza pelo acontecido, o luto oficial deveria levar a atitudes diferentes. Algo que possa ultrapassar o caráter de homenagem, já banalizada hoje em dia, e interferir na prática.

De que adianta alguém desconsolado com a perda de familiares, casa e bens em razão de uma enchente saber que o presidente, o governador e o prefeito decretaram luto oficial de três dias. Tal decreto não enche sua barriga, tampouco traz seus mortos de volta. Mais do que uma reverência, o luto oficial se transformou em uma mera burocracia. O presidente da Polônia morreu e o Brasil decretou luto oficial de três dias. O que isso representa? Diplomacia, meu caros, política de diplomacia.

Por essas e outras que eu digo que o modelo de Estado está ultrapassado. O decreto de luto oficial não tem valor algum na sociedade pós-moderna. O simbolismo do feito se perdeu. A poética de uma bandeira a meio mastro, se é que há poesia nisso, não é capaz de transformar a vida de cidadão algum. Definitivamente, é preciso começar a desburocratizar a dor, a morte, a tristeza. Afinal, o luto oficial se tornou semelhante ao minuto de silêncio protagonizado no futebol. O minuto não dura um minuto e o silêncio não existe.


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