22/02/2011 - Lições de vida e morte
Tive a honra de ter convivido por quase 25 anos com meus quatro avôs. Também conheci cinco dos meus bisavôs e uma porção de tios-avôs. Se hoje sou um contador de histórias, muito devo a eles. Cada qual do seu modo eles ensinaram-me muitas lições de vida e de morte. Até meus vinte três anos, dez meses e vinte e três dias de vida terrena, a morte ainda era uma coisa estranha para mim. Um tabu. Algo que só acontecia na casa do vizinho. Era como se eles, meus avôs, fossem imortais.
Embora eu já tivesse chorado as mortes de Betinho, Ayrton e Jobim e de alguns bisavôs, o meu círculo familiar mais próximo estava imune aos ceifadores. Durante a noite, acostumei-me a rezar pelos quatro e me questionei várias vezes como seria a vida sem eles. Eram próximos, na verdade, parte de mim. Não posso me queixar que os santos foram generosos comigo, afinal, poucas são as pessoas que puderam ter uma convivência tão intensa quão duradora como eu tive com meus avôs.
Foi então que no dia 03 de maio de 2004, Antônio Bueno de Campos, meu avô mais velho, se sacrificou para me ensinar uma das mais difíceis lições que se pode aprender: a lição de que ninguém vive para sempre. Ver aquele homem, taxista por profissão e amante de relógios antigos por natureza, enfeitado de flores dentro de um caixão foi um soco no estômago. Foi a primeira vez que enterrei um pedaço de mim. Foi a primeira vez que acreditei, de fato, na morte.
Meu avô morreu para que eu pudesse evoluir em minha vida espiritual. O fato de não querer perdê-lo me obrigou a abrir meus sentidos às outras dimensões. Foi o seu Antônio quem me deu força para encarar a morte de mais dois de meus queridos avôs. Depois de muito sofrimento e lágrima, posso dizer com propriedade que a morte não existe, é apenas uma passagem. Uma passagem que nos leva do físico ao abstrato, do finito ao infinito, do amor ao amor maior.
Comentários
Nossa que texto lindo faltam pessoas nesse mundao velho, que mexem com o nosso emocional como você obrigado abraços...
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