Daniel Campos

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09/11/2010 - Lições da natureza

Em todos os meus anos de sítio jamais vi duas galinhas chocarem os mesmos ovos, disputando acirradamente um único ninho. Ainda mais duas galinhas garnisé, bravas e espevitadas como elas só. Para minha surpresa, a cena, um tanto quanto improvável, aconteceu no quintal de casa. Aumentando o grau de improbabilidade, as galinhas escolheram o local da choca sem pensar em conforto, privacidade ou segurança. Mas elas quiseram assim, fazer o quê? Teriam que agüentar olhares, chuvas e companhias.

Conforme os dias se passavam, as galinhas foram se mostrando impacientes com a situação. Já não ficavam no ninho com a mesma disposição. Coisa de quem vivia aquela experiência pela primeira vez. E como dizia meu avô, não são todas as galinhas que têm vocação para o choco. Pior que no quintal lá de casa só existem essas duas garnisés, portanto, qualquer substituição estava fora de possibilidade. Na verdade, ao contrário de ajudar, acredito que aquela choca em conjunto prejudicava tanto as galinhas quanto os ovos.

O jeito era esperar. Passados os 21 dias daquele processo, pios e mais pios. Ao todo, cinco pintinhos nasceram. Foi uma festa. As duas galinhas disputavam os filhos e ao mesmo tempo queriam terminar de chocar os ovos que faltavam. No entanto, a festa durou pouco. Apareceu um gato, que até então não havia aparecido na história, e comeu três pintinhos de uma só vez. Outro morreu pisoteado no momento da briga. Contudo, um novo pintinho acabara de nascer, prematuro e, por conseqüência, fraco. Ele não durou muitas horas. Ao fim da história, sobrou só um filho para aquelas duas galinhas.

Ao contrário de disputá-lo com bicadas e esporadas, numa atitude totalmente despropositada, as duas o abandonaram. E o pobre coitado morreu de frio, pois ao contrário do que se pode pensar: quem tem duas mães, na verdade não tem nenhuma.


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