18/11/2010 - Latinidade
Hoje eu quero a mulher nascida sobre a água e renascida do fogo. Eu quero a mulher que tenha olhos de brasão. Eu quero a mulher de paradoxos, forjada entre a guerra e a delicadeza, entre os séculos dos séculos e o amanhã que ainda não vingou. Eu quero a mulher livre e transgressora, capaz de me deixar boquiaberto diante de sua boca. Eu quero a mulher inimaginada, que está além de cálculos e teorias. Eu quero avistar essa mulher caminhando pelos ladrinhos da poesia concreta que me habita. Eu quero essa linguagem de mulher na ponta da minha língua versando em segredo.
Eu quero, desde cedo, admitir que me confundo um pouco mais a cada instante diante da paisagem dessa criatura, escultura translúcida que tem barcos, namorados e luares em arco habitando o seu interior. Mulher dos pincéis de Pablo Picasso, das lentes de Luis Buñuel, dos discursos de Don Quixote, das rezas da Catedral de Almudena, das estátuas da Plaza de Oriente. Mulher que captura em seu corpo a alma das pedras e vai moendo a concretude do mundo, transformando o real em fantasia numa peregrinação tão lúdica quão necessária as outras criaturas.
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