30/09/2011 - Jacy (Minas-Brasília) Afonso
Ê Minas, ê Minas!
Aos apitos festeiros, uma maria-fumaça traz vagões e mais vagões de histórias para uma cidade que ainda constrói seus trilhos. Nos olhos de um homem-menino o mundo das tradições se mistura ao cenário contemporâneo. O barroco voa nas asas do modernismo. Aleijadinho e Niemayer dividem a mesma escultura. As veredas de Guimarães Rosa seguem paralelas aos eixos de Lucio Costa. Com muito a contar, as folhas das janelas de madeira se abrem aos calados prédios espelhados. As pedras das ladeiras e os azulejos de Athos Bulcão se encontram no botequim do horizonte.
Os sinos das igrejas históricas casam suas badaladas com os sons da catedral criada por um ateu. Serras e montes bailam no mais famoso quadrilátero do planalto central. Os casarões coloniais ladeiam os palácios. O São Francisco deságua nos espelhos d’água. Os tropeiros tocam a mesma estrada dos carros importados. Em duetos perfeitos, a seresta e o rock, Milton Nascimento e Renato Russo. O clube da esquina se reinventa numa cidade sem esquinas. A lua de Drummond e os luares de Nicolas Behr refletidos no mesmo céu de uma boca tupi onde a lua se chama Jacy.
As romarias e procissões caminham entre marchas e mobilizações. A Inconfidência e as Diretas Já no mesmo grito. Os quarteirões e as superquadras tentam se entender entre cadeiras na calçada e pilotis. As roseiras da senhorinha e os jardins de Burle Max numa só florescência. Poetas e revolucionários de mãos dadas. As cozinhas de Minas perfumam os salões tombados pelo patrimônio cultural. As redes se esticam nas sacadas apertadas dos apartamentos. Causos antigos e contos futuristas, lado a lado, nas páginas de um único livro. Os “uais” dividem a mesma frase com W3, L2, SQN 115, SBS...
Repetindo o caminho de Juscelino Kubitschek e de Darcy Ribeiro, lá vem Jacy Afonso, metade mineiro, metade brasiliense, inteiro coração. Lá vem Jacy Afonso de João Pinheiro e de Brasília, o menino e o homem, o cavaleiro e o sindicalista, a raiz e o fruto, o começo e o meio de uma só história, que vai e vem no balanço de um trem que corta Minas-Brasília. Lá vem Jacy Afonso com sua dupla cidadania, cidadão honorário, desbravador e bancário, nascido na poesia das gerais e renascido nos sonhos capitais.
Ê Minas, ê Brasília, ê Jacy...
Observação do autor: Uma homenagem a Jacy Afonso de Melo, que hoje, às 19h, no Teatro dos Bancários, recebe o título de cidadão honorário de Brasília pelas mãos da deputada Rejane Pitanga.
Comentários
Belo texto, bela e mereceida homenagem
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