Daniel Campos

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Gaveta sem fundo

Muitas vezes, ela abria a gaveta e me tirava dali. Como se ela fosse palavra e eu um papel em branco. E, pouco a pouco, ela se debruçava sobre mim. E ia me tingindo me manchando me marcando. De repente, ela se separava do meu corpo suado de tremores e pavores e me convidava para dançar.

Era como se ela convidasse a si própria para uma contradança. A cada vez, ela me impregnava mais com palavras suas. E dançava por alguns passos, mas antes da música acabar, ela se despedia. E eu entrava em uma espécie de gaveta sem fundo. Eu caia, caia, caia... Até que, tempos depois, acordava. E sempre despertava assustado com a impressão de acordar cada vez mais tarde. A cada novo despertar, meu sorriso era mais leve. E a cada novo descerrar, meus olhares guardavam mais surpresas.


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