07/05/2008 - Gatos, gatos e mais gatos
Depois de ler a notícia de que 300 gatos mortos foram encontrados em três geladeiras quando a polícia revistou a casa de um homem no norte da Califórnia (EUA), lembrei-me da mulher de Tio Antero que também criava centenas de gatos. Tio Antero, na verdade, era tio do meu avô materno. Morreu há uns três anos, mas não foi em razão de seus inúmeros cigarros de palha. Tio Antero era uma figura curiosa, só andava de branco. Calça branca, camisa branca, chapéu branco. Mesmo no final dos 80 anos conservava um charme colonial.
Mas o Tio Antero não é o personagem central deste texto, e sim sua mulher. Aliás, ex-mulher. Tio Antero não agüentou os gatos e foi embora de casa. Eu nunca conheci a senhora dos gatos, mas contam que sua casa era coberta por pelos. Pelos de gato no chão, no sofá, na cama, no banheiro, no fogão, no copo com água ou com café servido às visitas. Para qualquer lado que se olhasse, pelos e mais pelos de gatos. Além é claro, de fezes e urinas dos bichanos. Imagine, caro leitor, o cheiro insuportável que emanava da casa e o som angustiante daquela orquestra de miados.
Contam que ela tinha uns duzentos gatos. E todos presos dentro de casa. A sua doença era tanta que os gatos não podiam sequer sair ao quintal. As portas viviam trancadas e as janelas fechadas. Afinal, eles podiam fugir. E ela queria todos. E os gatos se multiplicavam a cada dia, afinal namoravam como ninguém. Os parentes de meu avô diziam que no futuro iam encontrar só os ossos daquela mulher, posto que os gatos ainda iriam devorá-la viva.
Tempos depois, não sei que fim levou essa mulher. Se ela continua com seus gatos ou se eles já cumpriram a profecia das línguas felinas e fizeram dela um último banquete. No caso dos EUA, a polícia ainda conseguiu salvar 30 gatos das geladeiras. No caso da ex-mulher de Tio Antero, sabe-se lá quem se salvou. Definitivamente, essas situações provam o quanto o ser humano é surpreendente.
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