Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
31/10/2009 - Gastronomia amorosa

Meu amor, ò vamos ceifar o trigo, vamos amassar o pão. Vamos assar, cozer, ferver nossos desejos em óleo bem quente. Vamos nos dividir como gomos de laranja e nos encontrar no fundo da boca. Vamos encontrar, misturar e acorrentar nossos nomes nas colheradas de uma sopa de letrinhas. Vamos cantar o nosso amor comendo guloseimas, pulando amarelinha. Vamos nos amar entre cartas de vinho e tarô. Vamos deixar a rotina insossa escorrer das grelhas e nos grelhar deitados nas telhas sob o sol ou à mercê das centelhas das estrelas.

Meu amor, ò vamos nos confeitar, nos granular, nos polvilhar de sentimentos. Vamos nos mexer, nos misturar, nos gratinar. Vamos nos lambuzar, nos deliciar, nos beliscar e nos fartar de nós. Vamos nos alimentar de nós poeticamente, fisicamente, antropofagicamente falando. Vamos nos flambar sem perder o ponto. Vamos guardar nossos sonhos em compotas. Vamos nos untar e nos morder e nos degustar. Vamos nos embeber e embebedar de sonhos e fantasias conjugais.

Vamos nos flertar em banho-maria e nos pururucar de paixão. Vamos nos servir alternadamente, frios e quentes num choque térmico, num amor endotérmico. Vamos nos fechar numa panela de pressão, vamos nos trançar num tabuleiro, vamos pular pelas brasas de um fogão à lenha. Vamos extrair nosso suco, refogar nossas carnes, temperar nossos mistérios sem moderação. Vamos açucarar cada vez mais nosso fetiche. Meu amor, ò vamos nos devorar com todo gosto e apetite.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar