26/10/2010 - Fuga a dois
Vamos, vamos, apresse-se, o tempo não irá nos esperar por muito tempo. Vamos tomar rumo, ganhar prumo, conjugar sumo na primeira pessoal do plural. Vamos pegar a primeira estrada que vier, independentemente de onde ela der. Vamos pegar carona na vassoura da bruxa, na cauda do cometa, na barbatana do tubarão. Vamos roubar o cavalo do príncipe, o cadilac do rei, o 14 bis de Dumont. Mas vamos, vamos embora que é hora de ir. Vamos fugir, partir, fluir pelas estradas alaranjadas.
Vamos, vamos, cuidado, não se esqueça de nada e nem traga coisas demais. Vamos simplesmente com a bagagem necessária, no caso, eu e você, você e eu. Vamos sem se despedir de nada ou ninguém. Vamos, vamos além. Vamos que nosso tempo é curto pro tempo que a gente tem. Vamos rumar na canoa do índio, no helicóptero do deputado, na garupa do tropeiro. Vamos andar no monociclo do palhaço, no balão colorido, na nave espacial do extraterrestre que pousou no quintal.
Vamos, vamos, corra, o tempo se esvai pelos ralos do tempo, pelos dedos do tempo, pelos lamentos do tempo. Vamos porque não existe mais tempo de se arrepender. Vamos porque não existe caminho de volta quando o mundo está acabando nas nossas costas. Vamos improvisar uma saída estratégica a partir do rabo do maranhão, da bolsa daquela mulher, do foguete do astronauta. Vamos que ainda dá tempo de pegar a última jardineira, o último submarino, o último beijo lançado ao ar.
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