Daniel Campos

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30/11/2012 - Faz de conta nº 3

Faz de conta que o mundo mudou e, que a vida girou e que o barco voltou. Faz de conta que hoje é o que há de melhor para se viver. Faz de conta que a sorte de tanto andar tonta pode cair aos seus pés. Faz de conta que a gente não vai morrer. Faz de conta que a fantasia está liberada. Faz de conta que o proibido é permitido. Faz de conta que a mocinha não se apaixonou pelo bandido. Faz de conta que há uma recompensa no final da estrada. Faz de conta que tudo leva à criatura amada.

Faz de conta que tanto dá para ir mais alto quanto mergulhar mais fundo. Faz de conta que deus não é vagabundo por ter descansado depois de seis dias de criação. Faz de conta que não doeu. Faz de conta que o que é meu é seu. Faz de conta que nossa relação com o calendário não é a mesma do peixe com o aquário. Faz de conta que o parafuso não nasceu pra porca. Faz de conta que a linha do horizonte não é torta. Faz de conta que não se importa com a saudade que lhe enforca.

Faz de conta que a solidão não é a pior das clausuras. Faz de conta que nunca cedeu aos belos olhos da loucura. Faz de conta que ainda é cedo e que não há motivo algum para ter medo. Faz de conta que existe cura. Faz de conta que o segredo não lhe coça a garanta. Faz de conta que a brincadeira não é séria. Faz de conta que a força não é tanta. Faz de conta que não existe fome de miséria. Faz de conta que o fim não é o começo. Faz de conta que a tristeza perdeu seu endereço.


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