24/04/2008 - Farta de apelação, a terra tremeu
Ninguém agüentava mais ser bombardeado pela falta de bom senso da televisão aberta, que nos últimos dias, obrigou-nos a engolir uma programação única: o caso Isabella. Vinte e quatro horas por dia a telinha nos mostrava imagens da menina, dos suspeitos, do passo a passo do crime. A notícia, com uma vírgula ou outra a mais ou a menos, se repetia em vários canais e, até mesmo, nos noticiários de uma mesma emissora.
Fizeram do caso, que é uma tragédia de proporções incalculáveis, um circo. Eu lamento profundamente a morte da menina, me revolto com a crueldade humana, mas não quero ser "macaca de auditório" para ficar na poltrona acompanhando milímetro a milímetro do desenrolar desse caso. Não quero compactuar com a teoria: explora-se a dor e banaliza-se o crime. Está claro a tentativa da televisão em transformar o fato em uma novela apelativa, que nos enrola em capítulos mil, só pelo bel prazer de aumentar a audiência.
Até programas, que não têm viés jornalístico, ficam reproduzindo o que já foi dito à exaustão. E isso não é informação, tampouco serviço social, é propaganda. Querem que consumamos a tragédia de qualquer forma, por isso ficam requentando ou até mesmo inventando pratos diferentes para a mesma notícia. É aquele velho ditado referente ao tirar leite de pedra. Qualquer gotícula é transformada em uma enchente sem proporções diante dos holofotes.
Diante disso, farta de tamanha apelação, a terra tremeu na noite de terça-feira. Nem ela suportou o dramalhão que estão fazendo a partir de um acontecimento sério e que exige respeito. Imediatamente, parou-se de falar da menina Isabella e começou-se uma onda noticiosa, que se espalhou como uma nuvem de gafanhotos famintos, a respeito do terremoto. Aiai, Brasil, quantos terremotos serão precisos para que a televisão encontre o caminho do bom senso?
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