Daniel Campos

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06/12/2011 - Eu, cegonha

Como cegonha, vou voando e levando um amontoado de filhos presos em meu bico. Meus rebentos são feitos de palavras. São contos, são poemas, são crônicas, são romances que eu carrego comigo por onde for. Muitos se espalham pelo vento, chegando assim a olhares desconhecidos. Porém, ao primeiro assovio, eles já estão todos ao meu lado novamente. São narrativas crianças armando um berreiro. São versos meninos brincando de rimar. São sentimentos que nascem herdando as minhas asas e a minha vontade de voar cada vez mais alto.

Ao contrário de alma, o que os povoa é a inspiração. No lugar do sangue, poesia. Fazendo a função dos pulmões, dois cataventos. O coração dos meus filhos é feito de cordas como violão, piano, violino, harpa, viola. São pássaros de nanquim loucos para desenhar letras e emoções num céu sem pautas. São línguas de vento se embrenhando pelo céu. São letras incandescentes, são poemas intermitentes, são memórias onipresentes. São criaturas místicas disfarçadas na forma de texto. São esperança e sonho embalados por um tempo infantil.

Como cegonha, vou entregando meus filhos de mão em mão, olhos nos olhos, boca a boca. Meus filhos são o mundo que habito e o que desejo habitar, o que sinto e o que senti, o que sou e o que jamais serei. Meus filhos são a licença poética e a métrica de um soneto. Meus filhos são reais e de ficção. Nascem para o livro, para o teatro, para o cinema ou simplesmente para uma ocasião especial e particular. Meus filhos podem viver por séculos ou morrerem recém-nascidos após cumprirem sua missão. Meus filhos são meus “eus” se apartando de mim.


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