13/07/2011 - Eu amo a filha de...
Eu amo a filha da deusa dos mistérios, dona de muitos búzios e deveras anos. Eu amo a filha daquela que é, ao mesmo tempo, o princípio, o meio e o fim. Eu amo a filha daquela que é formada pelo encontro da água com a terra. Eu amo a filha daquela que se farta de uvas de todas as espécies. Eu amo a filha daquela que rege o nascimento, a trajetória e o desencarne de tudo o que é vivo. Eu amo a filha daquela que é a própria história do homem sobre a terra. Eu amo a filha da água parada, da água da vida e da morte. Eu amo a filha daquela que traz em suas mãos um ibiri, feito com palitos de dendezeiro.
Eu amo a filha daquela que gosta de canto suave e de chuva fininha. Eu amo a filha daquela que se agrada com oferendas de velas da cor lilás, pirão, paçoca de amendoim e sarapatel. Eu amo a filha da dona do axé, da senhora dos ibás. Eu amo a filha daquela que está sempre às voltas com avenca, alfavaca, quaresmeira. Eu amo a filha daquela cuja origem se confunde com a concepção do mundo. Eu amo a filha daquela que abomina a figura masculina, que não se faz na cabeça de homem. Eu amo a filha da deusa das chuvas, da lama, da juíza que castiga.
Eu amo a filha da rainha dos pântanos. Eu amo a filha da primeira e mais vaidosa Yabá. Eu amo a filha da dona do cajado. Eu amo a filha daquela que mata de repente. Eu amo a filha daquela que é anterior à idade do ferro. Eu amo a filha daquela que tem o baobá como árvore sagrada. Eu amo a filha daquela que é rara. Eu amo a filha daquela que bebe o sumo das ervas e a água da chuva. Eu amo a filha daquela que é perigosa e vingativa e, ao mesmo tempo, protetora. Eu amo a filha daquela que veste uma saia lilás e mora numa casa de sapê.
Eu amo a filha daquela que dança curvada, limpando o ambiente de todos os males. Eu amo a filha daquela que enfeita o terreiro com violetas, manacás e flores de maracujá. Eu amo aquela que é guardiã do reino da morte. Eu amo a filha daquela que se rende aos mistérios da ametista e da rubelita. Eu amo a filha da lua violácea. Eu amo a filha daquela energia que tira ou gera uma porção de algo. Eu amo a filha de Sant’Ana. Eu amo a filha de Nanã.
Comentários
Nenhum comentário.
Escreva um comentário
Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.