07/09/2014 - Estiagem
Que venha a chuva, pois os corações estão mais áridos a cada dia. Os veios de dor expostos, trincados, assolados. Os cardumes da esperança foram drástica, impiedosa e praticamente dizimados por essa seca. Não sei por quantos dias os cilos onde estoquei minhas fantasias hão de aguentar alimentar a fome de quem ama. Nem o amor mais sertanejo conseguiu passar incólume por essa investida do tempo. Que venham os relâmpagos iluminar os olhos da mulher que se torna mais e mais estiagem. Que venham os trovões romper o silêncio seco que impregna nos leitos dessa mulher que corre em silêncio. Que venham os pingos preencherem a solidão que racha o peito dessa mulher. Que a chuva possa trazer mais do que consolo, possa trazer renovação de ânimos, vontades, desejos. Que a chuva possa movimentar as pedras do moinho interior dessa mulher. Que a chuva possa fazer brotar nela o que murchou, secou, tombou... Que a chuva traga suas pinceladas de cor devolvendo o brilho e o viço ao sentimento que sofre com a secura generalizada. Nem que for preciso que minha poesia cigarra exploda de tanto cantar, mas que ela traga chuva para esses terrenos já tão doloridos e desesperadores. Se ao menos as lágrimas fossem doces haveria alguma certeza para as sementeiras de sonhos lançadas por um poeta ao vento abrasador que de tão duro nem assovia mais.
Comentários
Nenhum comentário.
Escreva um comentário
Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.