Daniel Campos

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04/04/2011 - Entre o silêncio e a escuridão

A mulher amada é tão detalhada e silenciosa quanto à noite que cobre o seu corpo. Estelar, como as revistas de ficção científica, e divina como os livros sagrados que falam em céu, a mulher amada é noite profunda, funda escuridão. É a cantiga da estrela cadente e o desejo de tê-la só e somente só o quanto mais perto e a todo e qualquer instante. E o cometa infante, apaixonado, escorrega sobre a barriga dessa mulher que tanto se quer entre o sereno e a neblina.

Mulher que sacia a fome, a sede, a angústia de viver. Mulher que cala a solidão e fala em espaço, em universo, em galáxia com a naturalidade das crianças que sonham em embarcar em foguetes. Mulher que é materialização da saudade que berra entre o astronauta e a Terra. Mulher que é santa e vaga, em feitio de vagalumes. Mulher que míngua e se renova como a lua. Mulher luminosa e grandiosa como a noite que invade a cidade com suas carruagens puxando sedutoras paisagens.


A mulher amada é como a noite que voga por muito, muito tempo, reinando soberana para depois hibernar nos confins do mundo nos braços de um deus vagabundo embalada em sonhos e tempos fecundos. É o fruto e a frustração de um desejo. É a luz e a sombra na mesma silhueta. É a esperança e a vingança no mesmo anseio. É o brilho dos olhos de um anjo correndo em um seio à mostra. É o sol deposto sendo devorado em postas. É a criatura das criaturas que se faz bela entre a escuridão e o silêncio na face oculta de uma paixão.


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