26/03/2012 - Entre o perfume e o açúcar
Seis anos de um perfume açucarado. Seis anos nos amando e nos lambuzando nos óleos essenciais aromáticos um do outro. Seis anos comungando de olhares refinados, cristalizados, mascavos. Seis anos de alquimia. Seis anos de fervura. Seis anos de um per fumun agradável e duradouro. Seis anos colecionando aromas e doçuras mesmo quando a realidade queria que vivêssemos o avesso disso.
Seis anos vivendo através da fumaça. Seis anos de cítricos forais, extraídos de cascas de nossas frutas prediletas. Seis anos se lambuzando de flores ofertadas por ações ou pensamentos. Seis anos reconhecendo um ao outro no escuro pelo cheiro. Seis anos amadeirados. Seis anos clássicos e sofisticados. Seis anos marcantes, misteriosos e sensuais. Seis anos de frescor e delicadeza. Seis anos aromáticos.
Seis anos comestíveis. Seis anos de corações de sacarose, lactose e frutose. Seis anos de sabor adocicado. Seis anos de colonialismo, de escravidão, de migrações e guerras, enfim, seis anos de pura política açucareira. Seis anos embriagadores como cachaça. Seis anos tão puros como melaço. Seis anos moendo e remoendo o amor. Seis anos nos perdendo, nos procurando e nos reencontrando num imenso canavial.
Seis anos impregnados de sentimento. De um sentimento borrifado de vidros de boticário. De um sentimento devorado a colheradas. Seis anos trocando fragrâncias com outro corpo da forma mais natural e intensa possível. Seis anos se alimentando de todo doce que há na criatura que se ama. Seis anos, bodas de perfume ou de açúcar. Seis anos casando cada vez mais nosso olfato ao nosso paladar.
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