Daniel Campos

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05/04/2011 - Enlace

Quando ele chega ao fim do dia trazendo consigo a saudade, dores e um cesto cheio de caipirices ela se avia e agradece rezando baixinho uma ave maria. Ele tem o corpo cansado, o rosto suado e um monte de coisas para contar. Enquanto ele vai para o chuveiro ela lava sua marmita, passa um café e tira um bolo do forno e pensa coisas de mulher. Ela põe sua toalha na janela e ele canta como que espantando seus males, como que voltando para seus lugares, como que velejando por mares sem fim.

Depois de um tempo ele aparece todo perfumado e bem apanhado como que querendo convidá-la para dançar. Ela lhe entrega os chinelos e ele toma um gole de vento antes de abotoar seus botões. Ele admira os canteiros do quintal enquanto ela vai tirando as peças do varal e colocando no ombro. Ela mostra seus bordados, as contas, as cartas. Ele senta à mesa, fala dos feitos e desfeitos de sua lida. Ela voa longe, tropeça em seus passos, resvala em seus braços e ele, silenciosamente, a chama de querida.

A noite vai subindo como balão de São João e os olhos daqueles dois parecem vagalumes, brasas acesas dançando na escuridão. Ela desliga o rádio e os dois conversam sem dizer uma só palavra. Ela estica a colcha de retalho e ele, pela luz do candeeiro, cava um atalho rumo ao seu coração. Ela se apega com as contas de um rosário enquanto ele avança como um corsário pela imaginação. Ela observa a lua por detrás da cortina enquanto ele canta e se agiganta como galo da campina.


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