17/07/2011 - Engraçadinha
É de verdade ou de mentira essa mulher que me vira à cabeça? Será que ela vem do chão ou do céu? Será que nasce da sequidão ou da chuva? Será que se movimenta como um girassol ou um pirilampo? Será que vem do vento ou do relâmpago? Será resultado de uma experiência secreta ou de uma barriga indiscreta? Será um fruto solene ou uma licença poética? Será que veio de longe ou simplesmente acordou em mim?
Será que essa mulher se refugia nas curvas da minha alma, por detrás das minhas pálpebras fechadas se sono? Será que é o peso que me prende ao chão ou a leveza que me leva a conversar ao pé do ouvido das estrelas? Será que é sólida como pedra ou líquida como as palavras que esvaem das minhas mãos. Será conciliadora ou inconciliável como a humanidade?
Será a escuridão dos meus pensamentos ou a lógica que falta aos meus sonhos? Será o mais fundo do fundo que desço? Será inflacionária, tributável, sujeita às taxas ordinárias? Será de crenças ou de regras? Será única e ambígua ao mesmo tempo? Será de todos e de todos será uma? Será inútil e feliz ou útil e desperdiçada? Será das cozinhas, dos gabinetes ou das calçadas?
Será essa coisa que sinto suspensa em meu peito, que desafia a minha gravidade e me revira o eixo? Será meu conflito interior entre o conservadorismo do amor e a rebeldia da paixão? Será meu lirismo, meu sexo? Será meu esforço para que tudo dê certo ou o motivo que faz com que tudo saia errado? Será movida a doçuras ou travessuras? Será o passado que chegou ao futuro ou o futuro que pousou no passado?
Será de circo? Será de consumir intensa ou moderadamente? Será que pedirá em troca o meu espírito? Será que vai me devorar só por prazer? Será que mais do que me fazer amar, quer me fazer acreditar no amor? Será que com esses olhos límpidos consegue enxergar meus pensares mais sujos? Será que é capaz de gastar sua fé comigo? Será escrava ou pássara dos meus dias?
Serpa que se aflige com meu eu aflito? Será a dor da minha miséria ou meu anúncio de fartura? Será que chegou em caixas de correio ou no lombo de um cavalo selvagem? Será que acentua o traço do meu pessimismo ou cultua meu eufemismo? Será que se revolta quando eu lhe procuro querendo me achar? Será meu porto seguro ou meu barco em naufrágio permanente? Será apenas uma felicidade ou uma explosão de saudade nuclear?
Será uma ilha ou uma cidade, um barraco ou uma favela, uma porta ou uma janela? Será que é a minha dor mais crônica, a minha sílaba tônica, a minha fase cômica? Será o meu auto-reflexo, o meu espelho côncavo ou convexo? Será um tear de emoções ou uma quadrilha inteira de ladrões de alma? Será que vai encher meu campo com as suas constelações ou vai deixar a minha arquibancada vazia? Será real, palpável ou apenas uma metáfora metida à engraçadinha?
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