Daniel Campos

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Enfim, a guerra

Somos obrigados a viver a guerra. Amar, dormir, beber a guerra. Mais uma vez, somos reféns do poder. As nossas bocas são condenadas ao deguste da guerra. Mas que guerra? A guerra que nos querem mostrar. A guerra que querem pública. A guerra que nos arranca as asas da liberdade. E é tanta guerra, que até as minhas linhas se entregaram a ela. Juro leitor, eu resisti até onde pude, mas fui sufocado. Um tipo de censura que para calar, obriga a falar. Falar de guerra.

EUA x Terrorismo. EUA e Cia x Afeganistão. Bush x quem não é Bush. Em poucos minutos, do céu ao inferno. Duas torres. Torres de quem? Por que temos o costume de colocar o símbolo dos outros, um símbolo que não diz nada, em nosso peito? Lastimo pelos inocentes, mas e as tantas torres que são ruínas no Afeganistão... Torres humanas. Torres reduzidas a pó. Pó! O pó do deserto que cobre os olhos sem expectativas. Olhos que se rendem a um Deus. Deus dos miseráveis. Deus de ideologias dominantes. Condenam o fanatismo islâmico, porém em que altar se posiciona o orgulho norte-americano?

Não sou a favor do terrorismo, mas também não conclamo com o poder. Sou a favor da vida, das coisas do coração. Não quero bombas nem arrogância. Falam em guerra, mas e os atentados à vida que acontecem diariamente no Afeganistão, na África,..., e por que não, no Brasil. Não que seja egoísta, mas vibrar com heróis dos outros não é típico deste escritor. O brasileiro de tantas necessidades, de tanto abandono, de tanta fome, o brasileiro de tantos sonhos, Brasil que é vendido para os EUA e se parece, cada vez mais, com o Afeganistão.

Tudo tão próximo e nos fazem estar tão longe. O império nos ataca e ninguém diz nada. A artilharia do FMI voltada contra nós e eles são as vítimas. Por que a águia americana precisa estar acima de qualquer bandeira? Por que o mundo se ajoelha diante de tanta prepotência? Por que "os donos do mundo" são inatingíveis, intransponíveis, invencíveis? Não é bem o que parece. Eles são superiores porque nos consideramos inferiores. Como diz Caetano, eles são um país sem nome e nós somos um nome sem país. Precisamos descobrir esse país. Por que temos que falar I love you? Tantos problemas aqui e FHC pronto a ajudar Bush no que for preciso. Se eles agem em nome da vida, pergunto-me: e a nossa vida? Quase oito anos de governo e FHC ainda não encontrou a vida no Brasil.

Falam em 3º guerra mundial. Ressuscitam Nostradamus. Todavia, que guerra é essa? Tirem as câmeras de TV e esperem para ver se há terceira guerra. Uma guerra que se resume a um show de marketing. E quando saímos das telas de Hollywood, eis Vietnã e Hiroshima. Eis o final que não é feliz. Eis Cuba. Falam em democracia e onde está o respeito. Entre o céu de Bush e o inferno de Laden há mais vida do que se possa imaginar.

Se a vida, nos meios de comunicação e no cotidiano, resumir-se a tanques, a força, a bandeiras americanas, a vingança, a supremacia, a juízos de valores, declaro-me morto, desde já. Morto para esse mundo envolto de guerra. Falam e nos fazem falar de guerra, mas quando for noite, olhe pela janela. Esqueça a guerra e olhe a janela. A lua, independente de torres, discursos, terroristas e líderes mesquinhos continua linda. E uma nação, certa vez, disse ter conquistado a lua. Todavia ela não está presa aos céus de Nova Iorque. Caro leitor, a vida é maior que tudo isso. Ninguém conquista a lua, ela nos conquista.


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