Daniel Campos

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02/10/2010 - É lá que eu quero morar

Detrás das montanhas do vento leste, há casinhas coloridas, pintadas com duas ou três demãos de cal, por pintores de aquarela. Lá, as ruas são de pedra e sal e ninguém medra de bandido ou de desconhecido. Lá, a lua volta e meia tem uma queda de pressão, o que a faz cair nos braços de um sol vermelho rouxinol. Lá, há um frescor de menta pelas esquinas e as meninas se vestem de vestidos de algodão. Nessa cidadezinha perdida entre a mata e um riacho, dona Mariquinha raspa a goiabada cascão pregada no fundo do tacho. Lá, nessa terra de amores simplórios, reza-se o responsório ao meio-dia e não há espaço pro esculacho. Reina a rainha poesia.

Nessa vila de fim de mundo os cavalos andam triscando o chão, galopeando no azulão do horizonte que parece não ter fundo. Seu Genásio tomba a moringa, joga um gole de pinga pro primeiro santo que aparecer enquanto vai espiando sorrateiro o canto do oiti cortejando uma bem-te-vi no festeiro do alvorecer. Tem carro de boi margeando a praça trazendo entre os seus guardados o leite do café da velha Inácia em latões areados. Tudo é tão bonito de se ver nessa cidadezinha cercada pelas montanhas de Espanha. Os meninos soltam maranhão e as meninas brincam de casinha enquanto o cupido que mora lá no telhado da igreja troveja de paixão.


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