Daniel Campos

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17/02/2011 - Doração

A dor me consome. Uma dor que não dorme. Uma dor com tantos codinomes e sem nenhum nome próprio. Uma dor que me tira a fome, que me tira o sono e me dá o ópio. Os delírios e as fantasias de uma criatura dorida, sentida da vida. Os lírios e as poesias ficam para depois dos espinhos e gritos impossíveis de serem decodificados, quiçá entendidos. A dor que me faz aflito e me toma sozinho. A dor que alimenta o desespero e fecha todo e qualquer caminho. A dor que fermenta e envelhece como um bom vinho.

A dor de pensar, de existir, de sonhar, de iludir. A dor de subir e logo depois cair. A dor de não dar certo. A dor de ser pouco mais do que um feto. A dor das areias quentes do deserto, das sereias, das aranhas no silêncio de suas teias. A dor de uma jornada sem fim. A dor de uma colombina nos braços do arlequim. A dor da perda nos olhos de quem se ama. A dor vestida de drama, recém caída em uma cama. A dor de ser chama e tentar queimar o frio e a escuridão que há ao redor. A dor doída e vivida no pior da dor.

A dor que dói agora, que doeu ontem e que fatalmente doerá depois. A dor que dói sem ao menos perguntar - quem sois vós? A dor que não tem pena, envenena e sangra o poema. A dor que o diabo trouxe, a dor em foice, a dor de um coice. A dor que rima de forma barata com amor é a dor que não tem valor ou pudor. A dor contida nas mãos do pescador de redes vazias e nos olhos do sonhador de estrelas frias é a mesma dor de tantas chegadas e partidas. Dor dourada e alongada como as asas de uma harpia.


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