Daniel Campos

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05/09/2011 - Do inverno à primavera

O inverno, seco e frio, rigoroso e bravio, está prestes a morrer nos braços perfumados da primavera. O gigante das geadas e estiagens caindo aos pés da dama das flores. Flores de algodão, de colibri, de meia-estação. O gado magro voltará a ganhar carne. O mendigo poderá dormir tranquilo, sem o pesadelo de sofrer uma hiportemia no meio da rua. Os leitos dos rios, rachados se sol, ganharão a revisita das águas. Os canteiros empoeirados serão coloridos naturalmente por tons fortes e femininos.

O inverno é o tempo dos homens. Tempo duro, que, se preciso for, toma à força tudo ao seu redor. Tempo de belezas escondidas, de sentimentos de difícil revelação. Tempo de pausas e silêncios. Tempo de perdas na terra e tristezas vagando pelo ar. Tempo elitista. Tempo que não se sujeita a apelos afetivos. Tempo hostil. Tempo de proibições, de contra-indicações, de cuidados. Tempo de contabilizar prejuízos. Tempo reprimido. Tempo proibido. Tempo dos contos de fada e das bruxas e dos finais infelizes.

Um tempo espesso e tendencioso ao infinito. O inverno parece eterno. É o tempo interior se refletindo na paisagem. As sementes ficam presas dentro das cascas. As pessoas ficam enclausuradas dentro das casas. Os ursos entram em suas cavernas e se esquecem do mundo. É o tempo do encarceramento. É o encerramento dos ciclos. Tempo da busca constante pelo calor. Pelo calor dos astros, dos tecidos, dos corpos. É o amante fraquejando para dar espaço a mais feminina das estações.


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