Daniel Campos

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19/09/2010 - Dito e feito

Meu avô, fazendo uso da sabedoria dos antigos, sempre dizia que em ano de eleição deus não manda chuva enquanto persiste essa pouca vergonha. Ano de eleição é ano de muita seca, de vacas magras, de destruição. Na televisão, no rádio, nas ruas é uma gente falsa com abraços falsos fazendo promessas falsas. É uma gente que se esquece de Deus. Pior, usa seu santo nome para pedir voto. O criador, desapontado, castiga a humanidade com estiagens e queimadas.

Para o lavrador não poderia existir ano pior do que ano de eleição, dizia meu avô. E pior que ele tinha razão. A semente não vinga, os brotos amarelam, os pés disso e daquilo vão minguando até secar. Enfim, a plantação vai morrendo no campo. Já na cidade, o preço do tomate dispara, as verduras deixam o nosso prato e as frutas perdem o gosto. Por culpa dessa politicagem, as árvores não agüentam segurar a carga, o pasto seca e as bocas se enchem de fome.

Não adianta rezar para São José, dar banho no São Benedito, fazer procissão à Santa Cruz. Enquanto houver candidatos a Deus prometendo mundos e fundos por aí os céus abster-se-ão de qualquer possibilidade de chuva. Por hora não cai uma gota sequer. E depois, quando ela vier, será chuva brava, de vento e pedra, com direito a uma série de enchentes. Por essas e outras meu avô morria de medo de ano de eleição. Um ano em que os demônios deitam e rolam.


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