Daniel Campos

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24/11/2016 - Dia contaminado

Hoje o dia passa devagar como se não tivesse coragem, adiando o encontro com o que lá vem. Todos passam sem pressa, como que carregando um peso maior do que podem suportar. São tantas mulheres sem sorriso. São tantos homens sem juízo. São tantas idas e vindas num movimento impreciso. Hoje tudo é talvez, numa incerteza que trata o destino com desdém. Em quem confiar? Em quem depositar suas últimas fichas? Os carinhos são escassos e quando chegam têm textura de uma lixa. Há vigaristas e falsários por todos os lados. E há um peso de viver num mundo que não acolhe o amor que está bem ao lado. O amor nem sempre se apresenta alinhado, conforme sonhado. O amor pode estar numa roupagem dolorida, sofrida, entristecida. E quem é que vai acolher o triste? Tolos os que andam acreditando que a felicidade por si própria existe. Sem o nosso sopro, sem a nossa ação, sem a nossa vontade, tudo se perde numa inútil realidade. Não há frascos de alegria, comprimidos de bem-estar, doses de euforia... a felicidade verdadeira se encontra em estado bruto esperando para ser lapidada. Não é o outro que esconde a pedra, mas a pedra que esconde o ouro. E como que cansados pelo simples fato de respirar, de não acreditar, de deixar de sonhar, poucos se dedicam à procura do que realmente importa. E contaminado por tanto pessimismo e fracasso, por uma preguiça de viver realmente o que é preciso viver, o dia, contaminado pelas cargas do desânimo, se arrasta devagar, como que não querendo encontrar o que lá vem.


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