28/01/2010 - Depois das onze
Já passa das onze e eu voltei a ser quem eu sempre fui mais uma vez. Em meio a insensatez, canta-se o fado, redescobre-se o prado e as voltas do mundo revoltam o vagabundo que faz da sarjeta sua maior e melhor opereta. No chão, o agreste de Tieta e no céu, uma lua preta. O anjo se esqueceu da letra e a noite surgiu clara como o dia no convés de Maria. Ai meu Deus, quanta melancolia no revés da noite fria.
A madrugada avança e em feitio de criança, já não sei quem sou. Será que sou o fadista, ou o vagabundo, ou o malabarista, ou o breu da lua, ou a madrugada crua, ou o anjo farrista ou o mundo sem motorista? Será quem eu sou? Será quem eu fui? Qual será a minha alegoria? Será que sou triste ou somente o lado B da alegria. Já passa das onze e cá estou, tão longe quão perto de mim, outra vez.
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