01/05/2008 - De luto
Amanheço de luto. Amanheço em busca de uma manhã de domingo. Amanheço com um gosto de champanhe na boca. Amanheço nas retas sem fim de um pesadelo. Amanheço sem vontade de levantar. Amanheço e enxergo um rosto de olhar longínquo e boné azul como que querendo me dizer alguma coisa. Amanheço ao som de motores de doze, dez cilindros roncando alto. Amanheço rezando por chuva e pelo rei da chuva. Amanheço ao cheiro de pneu queimado. Amanheço buscando o amarelo riscado de verde e azul de um capacete.
Entardeço de luto. Entardeço com uma bandeira brasileira nas costas. Entardeço com um macacão vermelho e branco ou azul e branco (depende do ponto de vista) caminhando por uma estrada ao sol. Entardeço com lágrimas nos olhos. Entardeço com um desejo de ser tudo mentira. Entardeço me arrepiando aos acordes do Hino Nacional. Entardeço com as palavras embargadas. Entardeço com uma vontade incontrolável de viajar para Mônaco. Entardeço nas curvas e mistérios e magias de um "S". Entardeço entre o menino, o herói e o mito.
Anoiteço de luto. Anoiteço buscando uma estrela mais rápida no céu. Anoiteço na saudade que acelera fundo no peito. Anoiteço com a certeza de um lugar para sempre vazio no alto do podium. Anoiteço maldizendo uma curva (Tamburello). Anoiteço em busca de um orgulho perdido. Anoiteço sem o tremular de uma bandeira quadriculada. Anoiteço no punho erguido de um campeão tímido e determinado. Anoiteço procurando aqueles gritos emocionados de Galvão Bueno. Anoiteço ouvindo Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil e não me conformo. Há 14 anos é assim.
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