18/10/2012 - Coração atabaque
No lugar do coração eu tenho um atabaque. Sou feito de santo, do santo que me criou. Eu não sou, estou de passagem. E sigo essa estrada com o ritmo de quem serenou. Sigo com o corpo e alma consagrados ao sagrado que há na poesia, na mulher, na fantasia. O meu destino é o meu santo que faz e refaz, e o meu santo sempre bem me quer. O meu santo é o senhor do meu encanto, é quem me dá feitiço. Sou reboliço, sou homem, sou árvore, sou bicho. Sou a batida de um atabaque, sou a poeira levantada do terreiro, sou o sonho mais cabreiro que possa existir. É meu santo que determina a hora da minha chegada e a minha hora de partir.
O som do atabaque é o tam-tam dos povos mais primitivos do mundo. A batida do meu coração é quem conduz o axé do meu santo pelos labirintos do meu eu. E essa batida é a certeza de que o sagrado em mim não morreu. De segunda a segunda-feira, meu coração capoeira joga sentimentos pelas águas, pelo ar, pelas ladeiras. O meu santo é de couro e madeira, coração oco, coração eco. Pelas minhas entranhas, o grave do “rum”, o médio do “rumpi” e o grave do “lê”, três atabaques em um só coração, fé e canto. É no toque dos atabaques ao longo do xirê que acontece o meu santo.
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