Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
30/11/2009 - Consummatum est

O ano se arrasta, cai, levanta, bambeia, tonteia, empurra os dias com a barriga e reza para o dia 31 de dezembro acabar em barranco para que ele possa morrer encostado. É chegado o momento de jogar a toalha, de tirar o pé do acelerador, de pedir que o que ainda resta seja consumado o mais depressa possível. Há ainda quem tente correr, quem se arrisque colocando tudo a perder, quem faça por merecer e quem tente esquecer o que planejou, o que sonhou, o que almejou para sofrer menos.

Por mais que insistam em lutar, em se manter de pé, o ano se esvai como areia movediça em ampulheta roliça. Tudo acontece muito rápido. Aliás, rapidíssimo. Quem nasceu, nasceu. Quem morreu, morreu. O ano, como uma avalanche, arrasta consigo uma multidão no embalo de uma bola de neve. A cabeça ferve, mas de que adianta isso agora? Consummatum est. Não há mais tempo hábil para grandes mudanças e o tempo, a essa altura, não é tratável.

Faltando apenas um mês para acabar o calendário só resta esperar por um milagre. Não é à toa que muita gente volta a acreditar em papai-noel nessa época. Há uma legião de desesperados tentando correr na direção contrária do ano que passa com passadas cada vez mais largas. As frutas natalinas explodem amargas nas bocas pedantes. Em meio ao caos temporal, ninguém tem disposição para reparar nas renas que cruzam os céus. O mundo se rende à correria, à desvalia, à mais-valia, à hemorragia, à nevralgia danada.

Entre trancos e barrancos, o ano se arrasta, cai, levanta, bambeia, tonteia, empurra os dias com a barriga e reza para que no dia 31 de dezembro consiga se salvar e, quiçá, descansar em paz.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar