Daniel Campos

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06/09/2012 - Congestionado

O velocímetro se assemelha a um coração se esvaindo: 110km/h, 80km/h, 50km/h, 20km/h, 0km/h. Impossível calcular o número exato de sensações desagradáveis ao ver uma fila de carros parada. É para acabar com o dia do mais otimista. O que pode haver de bom em um engarrafamento? Nem Chico Buarque no rádio consegue suavizar o cenário. Fumaça de escapamento, buzina, falta de educação, sirene, variações absurdas de desrespeito.

Não há ambiente para se escrever um poema, para se imaginar em outro lugar, para conversar sobre assuntos amenos, para ler um livro. A raiva anula toda e qualquer germinação de bem-estar. Tudo parado, menos o relógio. Ah! Os ponteiros do tempo aceleram como bólidos de corrida. E isso causa ainda mais angústia, tensão, nervosismo, apreensão, ansiedade. Sem falar de azia, torcicolo, inchaço, câimbra, enxaqueca...

Nessas horas são compreensíveis as blasfêmias contra tudo e todos. Nem deus escapa. Por que Ele não nos fez com asas? Ali, naquelas condições, somos como pardais amputados, seguindo em pulos miúdos. Se o coisa-ruim surgisse no meio daquele congestionamento muitos não hesitariam em assinar um pacto para se livrar, de imediato, daquela confusão. No entanto, nem os cavaleiros do apocalipse conseguem furar aquele bloqueio.

Se Drummond estivesse ali, ao contrário de uma pedra, teria centenas de carros no meio de seu caminho.


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