Daniel Campos

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01/09/2008 - Como se fosse a primavera

Mal amanheceu o dia e um sabiá a lá Beto Guedes assobiou na minha janela "quando entrar setembro, e a boa nova andar nos campos"... Não era para menos, o sol de primavera brilhava em meio ao azul do vento, que corria apressado brotando canções semeadas no último inverno. Para fazer coro com aquele sabiá, surgiu um bem-te-vi, tão gordinho que mal conseguia voar... lá do chão ele encarnava um Tim Maia... "hoje o céu está tão lindo, hoje o céu está tão lindo"... Ainda é primeiro de setembro e a passarinhada esté em festa, anunciando a primavera que chega oficialmente daqui uns vinte dias.

Para colocar mais poesia na cantoria, dois outros passarinhos vieram ter uma prosa comigo. Duas aves poéticas, bossa-novistas. Um inhambú chamado Vinícius de Moraes e um canário que atendia por nome de Carlinhos Lyra chegaram como parceirinhos e juntos, musicaram o meu beijo matinal, que foi sussurando nos lábios da minha amada assim: "amor, eu lhe direi, amor que eu tanto procurei, ah! quem me dera eu pudesse ser, a tua primavera e depois morrer". Com pressa de viver, um curió gonzaguinha, sangrando seu canto dolorido, entrou casa afora da seguinte maneira: "salve primavera, o começo da vida. Primavera, natureza é festa, porta aberta para o homem seguir"...

Fui seguindo os olhos para o alto da amoreira, onde um macuco jobiniano cantava sua derradeira primavera: "Põe a mão na minha mão, só nos resta uma canção". E foi inspirado nessa canção primaveril, que, embora inverno, comecei a sentir um novo tempo logo ali naquela orquestra passarim. Eu que vinha vivendo de sorrisos de inverno, sorri pela primeira vez, neste ano, primaveralmente falando. Isso bastou para um rouxinol buarque, também conhecido como chico, vir me provocar: "de que calada maneira, você chega assim sorrindo, como se fosse a primavera..." Mesmo vivendo os últimos dias de um inverno seco e bravio, os pássaros de setembro me faziam sentir como se fosse a primavera....


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