09/04/2011 - Coisas do frio
O frio chegou antes. Chegou lá pelos meados de março e sem vergonha espalhou-se por abril. Um frio duradouro que chega a doer os ossos reumáticos. Um frio indiscreto, que causa. Um frio poético, que atiça. Um frio que cala dois corpos em um só corpo. Adoro esse frio inesperado. Um frio chuvoso, de neblinas e lãs. Um frio que corta como uma navalha nas mãos de um barbeiro. Gosto de sentir esse frio e de vê-lo se aboletar pelas coisas e pessoas que estão ao redor.
É como se o tempo tivesse enjulhecido. Sinto novamente as sensações e vibrações dos meses de julho que ficaram pelo caminho. Noites de festas juninas. Noites de fogueiras. Eu cortava a noite, indo da casa dos meus pais à casa do meu avô, com uma manta nas costas. Tempo em que a terra nina as sementes, e elas adormecem na espera por dias de calor. Tempo de chás e sopas, de livros e músicas capazes de agasalhar a alma, como um bom disco de Jobim.
Eu sou um poeta do frio, um escritor da chuva. Um dia ainda vou realizar o sonho de morar em uma montanha. E ter um fogão à lenha bem no meio da cozinha. E ficar na varanda, enrolado em cobertas, comendo ou bebendo chocolate. Andar pelo jardim e sentir o cheiro do frio que infesta as flores da geada. Ficar por ali, como quem nada quer, e, num súbito, beijar a mulher amada que, para combater o inverno, arde de amor. Ah! O frio... que seja eterno...
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