26/01/2011 - Clonar ou não clonar?
O clone humano só valeria à pena se os cientistas por meio das teclas de piano fizessem nascer um novo tom, maestro Jobim. Se com o DNA asfáltico do autódromo Interlagos, mais precisamente do S do Senna, acelerassem um novo Ayrton. Se de um copo de uísque trouxessem novamente ao mundo, com a benção dos orixás, Vinicius de Moraes. Se com uma pimentinha reavivassem por mais uma vez o canto de Elis Regina.
Os médicos poderiam pegar palavras, em genes de versos e prosas, e fazer novos nerudas, drummonds, pessoas, guimarães. Poderiam apanhar rosas que não falam e florescer outros cartolas. Poderiam isolar células de solidariedade e dar à luz a betinhos, uma série deles. Poderiam juntar marios e lagos e reproduzir Mario Lago. Poderiam fazer uso da mais pura matéria teatral palco afora e dar um bis de Paulo Autran, Raul Cortez, Paulo Gracindo...
Para emplacar o clone, desafiando anjos e diabos, é mister saber clonar o beijo da mulher amada. É fundamental fazer clones de bons momentos e sentimentos individuais e coletivos. É preciso trazer ao mundo o tempo dos poetas, dos profetas, dos amores além da conta. O clone humano só valeria à pena se os cientistas encontrassem no santo sudário os resquícios necessários para clonar o filho legítimo de Deus.
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