10/07/2012 - Clarabela apaixonada
Por mais que o agapornis seja a ave do amor, difícil acreditar que uma delas um dia chegaria a fugir da gaiola abandonando seu parceiro para viver uma paixão com um bem-te-vi. Pois aconteceu. Nem mesmo no mundo animal o amor tem limite ou alguma razão. Clarabela, uma agapornis amarela das bochechas avermelhadas, abandou seu esposo Duque e ganhou os céus na companhia de um bem-te-vi, que malandramente já a cortejava pelas grades da gaiola.
Livre do cercado, voou, com toda pressa de amar, pelo cerrado, pelas galhas secas dos ipês e pelo floreio dos hibiscos e manacás. Voou e se arriscou pelos telhados de barro, pelos olhos famintos dos gatos e pelos fios carregados de energia. Voou, ou melhor, dançou ao som de tantos e tantos bem-te-vis. Voou e se rasgou de loucura, de prazer e de aventura naquele céu de organdi. Voou e, esbanjando garbo e elegância, ainda ganhou flores de um colibri.
Clarabela renunciou aos alpistes e girassóis para se alimentar daquele sentimento incompreendido. Enfrentou o frio, a fome, o vento para ficar sob as asas daquele bem-te-vi sem nome. E o que era para ser uma versão alada de Romeu e Julieta, tornou-se mais um amor aos pedaços. O bem-te-vi não era bem o que parecia e Clarabela, diante daquele amor barato, voou, voou, voou e fechou-se na gaiola. Faria dali sua masmorra por sua traição mesmo sabendo que estaria condenada a morrer de solidão.
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