Daniel Campos

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24/05/2011 - Cinza céu

O tom cinza do dia parece pesar no céu. Um peso tão grande que nem o vento, que ricocheteia cortando as nuvens em milhões de pedaços, consegue arrastá-lo para longe. O céu, do amanhecer ao anoitecer, é borrado, como que sujo de inverno. É como se um deus das trevas passasse pelo celestial arrastando um manto espesso e turvo. Um céu que intimida o vôo dos pássaros, dos aviões e dos balões.

Só não é capaz de intimidar meus olhos, que voam querendo descobrir o que há por trás daquele cinza todo. No entanto, na maioria das vezes, meus olhos campestres acabam absorvidos por aquela cor fria e úmida. Não é à toa que nessa época meus olhos tremem mais do que de costume e, até mesmo, surgem com manchas de mofo. O mofo da melancolia. Em dias assim, a poesia surge pálida e quer ficar embaixo das cobertas.

Eu amo dias assim, ao mesmo tempo belos e tristes como a mulher amada. No entanto, por questões de sobrevivência, meus olhos precisam mergulhar quase que diariamente em fartas xícaras de chocolate quente. Se da minha janela pudesse avistar o mar, certamente as ondas seriam tão cinzas quão o céu que me cobre os pensamentos.

Mas como não há mar por aqui os piratas das névoas navegam pelos céus acinzentados e pesados e nublados saqueando corações e espalhando medo e ilusões.


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