05/10/2010 - Ciclo vicioso
Amanheceu outra vez numa mais que completa desfaçatez. E o mundo que se desfez, pôs-se a rodar motivado pela embriaguez de um trago a mais. Um trago a mais de noite. Noite de escuridão e neon. O balé das sombras ressaqueadas vai se perdendo nos primeiros raios de luz. Salvação para uns, cruz para outros. A cada novo dia é assim. Milhares de boêmios, pirilampos e outros notívagos vagando pelas ruas sem fim como vampiros fugindo do sol. Milhares de olhos e bocas querendo um pouco mais de lua para beber, para comer, para ter prazer.
Porém, a lua padece e enfraquece sumindo pouco a pouco até se tornar transparente, ausente como seus amantes. O sol reina e teima sua onipotência. Quantos choram, imploram, estouram lamentos pela quentura do dia. Quanta poesia morre no asfalto abrasivo tentando encontrar uma única e mísera estrela para amenizar seu sofrimento. O sol vai roubando todo o frescor das bocas; o sol vai deixando rouca a voz das loucas que gritam pela lua que, a essa altura, já vai distante, surda e nua.
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