Daniel Campos

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22/09/2012 - Chuvará

Na sexta-feira de Oxalá, Nanã apareceu em forma de chuva, num balé, bem devagar, de águas para lá, de águas para cá. E plantas e animais, em uníssono, saudaram a volta da velha senhora num grande Salubá. Sob o axé de Olodumaré, as chuvas provocaram as marés de Iemanjá e as outras iabás. As águas correntes de Oxum ganharam força nas corredeiras e cachoeiras. Os ventos de Iansã espalharam a chuva como se espalha sementes de esperança pelo ar. Obá, depois de tantas guerras, largou a espada e foi dançar. Na cor das águas, o céu de Ewá, cobriu a todos nós nas feições de um grande abadá.

Tamanha saudade de uma atmosfera tão pura depois de tanto tempo de secura deixou Iansã tão feliz que por pouco a primeira não virou tempestade. A ventania correu o céu, varreu o chão revirando as palhas de Omolu, que quase ficou nu. Querendo mais, Iansã cortou o céu com seus raios ao encontro dos trovões de Xangô. Exu se aproveitou daquele movimento para levar suas mensagens e abrir novos caminhos pelas encruzilhadas do sentimento. A Pomba-Gira foi rodando sua saia, firmando o ponto de sua lira, recebendo seus ebós no meio do toró.

Até Ogum, o maior dos guerreiros, permaneceu em paz no reino de Olorum. A chuva reavivou o mundo verde de Oxóssi, trazendo a certeza de fartura para os caboclos da sua lança. A chuva recarregou de magia as folhas de Ossaim, que de alegria banhou-se no jardim feito criança. O caçador e pescador Logun-Edé anunciou a chegada da prosperidade nas matas e nos rios. Oxumaré aproveitou as cores da chuva para retocar seu arco-íris que logo mais navegaria pelo céu como um navio. Porém, enquanto o arco-íris não aparecia, Nanã chovia pelo dia de Oxalá, Èpa-Bàbá, Salubá, chuvará...


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