09/10/2011 - Chuva fêmea
Minhas pernas em suas tabernas, eu bêbado de chuva e dançarino de estrelas. Ah! Ora pisava na ponta de uma das três marias ora caia nos domínios da ursa menor. Eu me pendurava ao vento, como se fosse uma peça de roupa somente, para logo perder a respiração numa tromba-d’água. Caia na lama, sujava a cama, trovejava em seus relâmpagos. Meu corpo ficava pesado e, ao mesmo tempo leve, cheirando a mato molhado.
E então veio o desejo de velejar pela chuva que escorria em sua pele, úmida e quente, em feitio de uma correnteza bravia. E o medo me seduzia e me enlouquecia e me convencia a ir mais longe. E tão logo me assumia náufrago me via capitão de seus afagos. Eu me sentia menino e ao mesmo tempo um velho lobo do mar. Queria valsar pelas ondas prendendo-a em meus braços ao longo de mil nós de marinheiro.
Cantava cantos de pescadores aos seus ouvidos e confundia sua guerra com gemidos. Estava disposto a enfrentar piratas, caso surgissem pela enxurrada, ou os deuses da chuva, se quisessem tomar posse do que, por natureza, lhes pertencia. Ignorei os tubarões, os canhões, os grilhões em nome do néctar que escorria em seu corpo. Aquele frescor adocicado como uma espécie de gozo de euforia e cólera num lençol de chuva.
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