28/02/2013 - Chorante
Chora o sabiá na dobra da janela. Chora o sol nos quartos da lua. Chora o serrote no cerne do jequitibá. Chora o tempo nas voltas do relógio. Chora o grilo em roçadas de pernas. Chora o broto rompendo o chão. Chora a cortina que fecha o espetáculo. Chora o buquê pela separação da noiva. Choram as paralelas por viveram lado a lado e não se cruzarem nunca. Chora a garrafa vazia nas mãos de um bêbado. Chora a cigarra esperando a chuva. Chora o violão nos braços dos desafinados.
Chora o lavrador no meio da estiagem. Chora a amora lágrimas de sangue doce. Chora as palavras a cada investida da borracha. Chora o pescador pelos peixes que não pescou. Chora a bailarina condenada ao silêncio. Chora o peito flechado de solidão. Chora a saudade em cada uma de suas camadas. Chora o destino que não vingou. Chora o mar no balanço das ondas. Chora a cebola na ponta da faca. Chora o sereno no hálito da madrugada. Chora o galo fechando o dia no alto do mourão.
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