Daniel Campos

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30/03/2011 - Choradeira

Chora. Chora feito chuva. Choro manso ou de vento, choro fino ou de granizo, choro que cala à terra ou que troveja de dor. Chora feito uva virando vinho. Chora feito viúva sem carinho. Chora como uma porta se abrindo e deixando escapar o que esconde. Chora como se estivesse em trabalho de parto, perdendo um pedaço de seu corpo. Chora como choram as virgens, meio que sem saber chorar. Chora por brio, vazante como um rio. Chora como uma gaivota que voa. Chora sem motivo, chora à toa.

Chora como se fosse o tempo das águas. Chora mariritamente mágoa a mágoa. Chora o choro dos cristais. Chora aos deuses do sal. Chora suas muitas marés. Chora o amor de um corsário. Chora fazendo de seus olhos um perfeito aquário. Chora e me conta quem é. Chora como prova de fé. Chora num tamborim. Chora um choro de guerra ou de festim. Chora com perfume de flor. Chora de favor. Chora baladas e hortelã até amanhã de manhã.

Chora seus poetas malditos seu corações aflitos. Chora um choro limpo e bonito. Chora barcos e névoas. Chora sem trégua. Chora retratos e fatos num lago de patos. Chora os reis cansados. Chora o sexo dos anjos. Chora bruxas e bailarinas. Chora aos filhos de leão. Chora luzes pequeninas. Chora relampeando. Chora o choro de sabão das lavadeiras. Chora sem segredo algum. Chora em serenata um choro de cascata. Chora e parta na maré alta em fragata.


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