Daniel Campos

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14/11/2012 - Chora, o Delegado foi embora...

Quem vai prender as cabrochas na conversa
Agora que Delegado foi embora
Quem é que vai me algemar ao samba que versa
Agora que Delegado foi embora...

Quem é que vai dar voz de prisão à tristeza
Agora que Delegado foi embora
Quem vai ser mestre-sala com tanta nobreza
Agora que Delegado foi embora...

Chora, chora, Mangueira chora
Chora, minha Estação Primeira...


Diante do corpo de Delegado, deitado na quadra da escola, a bateria da verde-rosa repicou o Hino da Mangueira. Ainda se tinha esperança de que a qualquer momento Delegado levantasse daquele caixão e começasse a dançar por aquela quadra, que coleciona, impregnado em seu piso, tantos de seus passos, de seus volteios. Era inconcebível ver o corpo do lendário dançarino estático, imóvel. Como é que o samba ia sair, sem Delegado?

Um metro e noventa de puro samba, Delegado era o bailarino da folia. Noventa anos de talento. Que outro mestre-sala, por 36 desfiles, tirou somente 10? São quase quatro décadas de invencibilidade. Pudera, Delegado quando rodava em torno da saia rodada da porta-bandeira não pisava no chão. Como um pássaro negro, seus pés eram asas. Asas que lhe permitiram um bailado cortês e delicado pelos céus do carnaval.

Além de dançarino, Delegado era um apaixonado convicto. O homem que prendia as moças com seu charme, gingado e conversa nunca se casou. Como a verde-rosa, nunca teve dono ou dona, nunca teve parada, nunca teve rotina em sua vida. Nem a idade, nem o câncer, nem o velório foram capazes de calar o samba regado à cerveja. Alguém que foi tudo na Mangueira, de mestre-sala à lenda, de presidente de honra a símbolo, não morre, transcende.

Minhas reverências, meu luto, meus aplausos ao cidadão mangueirense Hélio Laurindo da Silva, o eterno Delegado.


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