Daniel Campos

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20/07/2010 - Cheio

Estou cheio. Cheio de tanta interferência, de tanta indecência, de tanta falta de clemência. Estou cheio como um copo vazio está cheio de ar. Estou cheio de lamentações, de falsos perdões, de traduções baratas do sentimento. Estou cheio de problemas e de outros ecossistemas. Estou cheio de tremas, não-poemas e quedas de sistema. Estou cheio de buracos e sorrisos opacos. Estou cheio de conversa fiada, de estrada que leva ao nada.

Estou cheio. Cheio de realidade, de tarde e de saudade. Estou cheio de mentiras, de viver sob miras. Estou cheio de assombrações, porões e outros grotões. Estou cheio de luar como céu escuro caído nas ondas do mar. Estou cheio de gastrites, artrites, sinusites. Estou cheio de pranto e espanto. Estou cheio de pó e de nó. Estou cheio de insensatez, de lucidez e de água como um rio correndo em sua aridez.

Estou cheio. Cheio de frases enlatadas, de portas fechadas, de decisões adiadas. Estou cheio de burocracia, de hipocrisia, de anestesia. Estou cheio de gavetas e coisas obsoletas. Estou cheio dos idiotas, das metas e das rotas secretas. Estou cheio da rotina, da propina, da adrenalina. Estou cheio do tédio e da falta de remédio.


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