25/02/2012 - Cezar Peluso é destino
Cezar é nome de imperador. Nome que impõe respeito e até certo temor pela sua sonoridade histórica. Mas Antônio Cezar Peluso foge ao estereótipo de seu nome. Ao contrário da força, usa a suavidade para consolidar e expandir seu império nas dimensões temporal e espacial. Império? Sim. Um império de justiça, de cidadania e de bem-estar social que contraria o próprio conceito de império.
Ao contrário de lanças e espadas, a letra da lei que tatua a alma de Cezar Peluso é a arma que o conduz nos embates e a ferramenta com a qual trabalha nas oficinas do Direito pelos territórios físicos e abstratos. Definitivamente, o código genético de Peluso é a relação entre a sequência dos feitos e efeitos de sua atividade jurisdicional.
A figura de Peluso é de um encanto misteriosíssimo fruto da tensão intelectual que o habita. Afinal, é forjado no debate. Técnico, sabe onde pisar, olhar, falar e tirar da emoção toda razão que necessita. Mesmo ocupando a cadeira mais cobiçada da Corte brasileira, Peluso é de uma discrição que espanta. Tem currículo de gente grande e olhos de menino, que transbordam uma fragilidade que toca a alma alheia.
Se tudo o que o Rei Midas tocava virava ouro, tudo o que Peluso toca vira algo mais sensível à realidade. Peluso é de uma existência suave, embora firme em todos os sentidos. É imperador e ao mesmo tempo soldado e servo do império que rege as relações interpessoais nos diversos aspectos da vida em sociedade.
Postura reservada. Seriedade impecável. Dedicação extrema. Tanto que se pode dizer que onde está Cezar Peluso, ali está o Direito. Décadas de convívio e cumplicidade com as normas jurídicas, com os ritos processuais. Os corredores do Supremo se habituaram aos passos curtos e apressados e as palavras de sussurro e de longo alcance deste Cezar.
Sua aposentadoria vai romper paradigmas porque o homem que produziu tanto será incapaz de produzir o vazio, seja ele concreto ou sensorial. Porta-voz da paz social que persegue por horas a fio, Peluso é de um conhecimento reflexivo e elegante. Pode-se dizer que se trata da fina estampa do entendimento.
Por detrás daquele bigode, um Cezar cirúrgico em atos e palavras. Presidente, ministro, jurista, professor, advogado, magistrado... São tantas nomenclaturas para denominar o homem que tem a luta pela democracia permeando seus tempos cronológicos e psíquicos. Antônio Cezar Peluso é destino. O destino do Direito.
Comentários
O texto nos traz o ministro sob um ângulo bastante interessante Muito bom
Adorei sua crônica. Vou levar para as salas de aula na segunda. Ótima oportunidade dos alunos conhecerem o presidente do STF através de uma visão literária.
Texto de bom gosto. Os ministros do STF sempre tão fechados e distantes merecem textos assim que os tornem mais próximos, mais humanos
Texto envolvente. Parabéns a Cezar Peluso (pela história) e a Daniel, q conseguiu retratá-lo de um jeito q nunca tinha lido
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