Daniel Campos

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07/06/2008 - Céu vermelho sangue

O céu vermelho como fogo. É como se o sol tivesse explodido e espalhado sua vermelhidão pelo horizonte afora. Será o fim do mundo? Independentemente da resposta, a população estava enlouquecida. Tinha quem olhasse para o céu em busca de algum sinal e quem se escondesse debaixo da cama com medo de ficar cego. Tinha quem falava que era coisa de extraterrestre, de bomba nuclear e até de comunista.

O mar bravio quebrava suas ondas vermelhas pelas praias mais famosas. E não era uma invasão de algas vermelhas e sim o puro e simples reflexo do céu. Os pássaros não se atreviam a voar. Com medo, caminhavam pelo chão, tornando-se vítimas fáceis dos gatunos de plantão. Os aeroportos estavam fechados e os passageiros nem reclamavam. Afinal, ninguém queria enfrentar um céu daquele. E serenava uma espécie de chuva, na verdade, um pranto vermelho.

Os mais antigos, rezavam. Os mais novos, bebiam. E os mais novos ainda, choravam. Afinal, faltava muita vida para viver. E havia quem abraçasse o marido, o namorado, o filho, os pais, o cachorro e a imagem de um santo. Havia quem lembrasse antigas profecias dizendo que o mundo acabaria em fogo, já que da primeira vez foi em água. A televisão não mostrava outra coisa senão o céu em brasa.

O clima de pânico era geral. Já não havia mais esperança. Era momento para o último eu te amo, para o último beijo, para o último pedido. Pela primeira vez, não haveria amanhã. O hoje era o fim. Tudo parecia cena de filme. O único problema é que o céu não era tela de cinema. Aquele vermelho todo alimentava a fornalha da angústia, do medo, da incerteza. Por maior o caos, aquilo tudo não deixava de ter uma beleza fora do comum. E também não era uma cor comum: vermelho sangue, eis os céus dos olhos da mulher amada com conjuntivite.


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