06/08/2010 - Cem dias sem chuva
Você sabe o que é ficar cem dias sem ouvir o barulho da chuva? É algo enlouquecedor para quem tomou tantos banhos de chuva como eu. Cem dias sem ouvir aqueles pingos se espatifando contra telhas e calhas. Cem dias sem ouvir os trovões ecoando ao fundo. Cem dias sem ouvir o vento anunciando e carregando a chuva. Cem dias sem escutar o canto dos pássaros saudando a chuvarada. Cem dias sem dormir embalado pelo cair da chuva.
Você sabe o que é ficar cem dias sem sentir o perfume da chuva? É algo assustador para quem acostumou a se impregnar da fragrância da chuva como eu. Cem dias sem sentir aquele cheiro de mato molhado correndo pelo ar. Cem dias sem se deparar com aquele cheiro de poeira subindo ao ser alvejada pelos primeiros pingos. Cem dias sem sentir a essência da chuva se misturando à pele da mulher amada. Cem dias sem ter o perfume da chuva mexendo com os sentidos da gente.
Você sabe o que é ficar cem dias sem saborear o gosto da chuva? É algo castigador para quem sempre apreciou o toque culinário que a chuva dá às refeições. Tudo ganha sabor com a chuva chovendo na plantação. Seja plantação de quitutes ou de sonhos. A chuva deixa vistosa qualquer roça, concreta ou abstrata. Faz crescer as ilusões, colore as fantasias, rende as mudas de esperança. E, em conjunto desses feitos, coloca mais tempero em nossa existência. Uma coisa que a ciência não explica. Mas o amor, na chuva, multiplica-se como tiririca.
Comentários
Nenhum comentário.
Escreva um comentário
Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.