Daniel Campos

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26/01/2013 - Caso eu morra

Se eu morrer, não joguem fora minhas linhas, meus versos. Se eu morrer, não calem meus discos de Jobim. Se eu morrer, tomem minhas garrafas de uísque por mim. Se eu morrer, libertem meus pássaros. Se eu morrer, não mudem de opinião ao meu respeito. Se eu morrer, não se preocupem com essa coisa de funeral e sepultura. Se eu morrer deixando corpo para trás, ateiem-me fogo como se fazia com bruxos. Se eu morrer, deem a devida destinação a cada uma das minhas guias. Se eu morrer, vistam outros com minhas roupas. Se eu morrer, não economizem nas velas. Se eu morrer, não deixem de amar quem eu amei.

Se eu morrer, não tentem me chamar de volta. Se eu morrer, não tentem me seguir. Se eu morrer, não modifiquem uma vírgula do que escrevi. Se eu morrer, não façam questão de me entender. Se eu morrer, que as más línguas me deixem em paz. Se eu morrer, não roubem meus sentimentos. Se eu morrer, minhas poesias ficarão como o meu único testamento. Se eu morrer, reze para eu não cair nos braços da solidão. Se eu morrer, nada de escândalos ou investigações. Se eu morrer, não traiam a minha ausência. Se eu morrer, torça para eu me transformar em declarações de amor nas bocas de quem ficou.


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