Daniel Campos

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20/10/2012 - Carmelino, o guardião das escadas

Há diversos guardiões de templos e de estradas, de tempos e encruzilhadas, mas guardião de escadas eu tenho notícias somente de um. Quando subindo ou descendo degraus em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora encontrar um negro de sorriso farto e olhos de menino pode ter certeza de que suas escadas nunca mais serão as mesmas.

Muitos vão por alamedas, mares, montanhas, mas aquele homem que faz festa por existir e vive buscando sorrir para tudo e para todos prefere as escadas. É alma que ninguém aprisiona em gaiola, tampouco em elevador. É negro que honra sua origem, seu povo, seu sangue e percorre escadas como se voasse por eles como condor.

Por mais que as marcas dos chicotes ainda ardam e seus estalares sejam ouvidos por meio de ecos que romperam as dimensões temporais, aquele que chorou com Mandela desafia escadas provando que a vida se faz de degrau em degrau.

Uma história de superação enriquecida dia após dias sem se esquecer do passado, sem deixar de viver o presente e sem parar de sonhar com o futuro. O encanto daquele guardião das escadas está justamente no fato de não parar, de ter a vida emendada em acontecimentos como um degrau no outro.

E assim, em feitio de escada, ele se liga as pessoas e aos acontecimentos ao seu redor, permitindo estar unido sem ocupar o espaço de ninguém. E nos passa um ensinamento importante de que na escada todos os degraus são igualmente importantes para se chegar ao destino e que ninguém está acima ou abaixo do outro, pois tudo depende do caminho que se pretende seguir.

Aquele homem que é humano no mais profundo cerne da palavra humanidade perdeu a conta de quantas maratonas já cumpriu escadeando pela vida afora. Quantos sentimentos, lembranças, belezas encontra, conscientes ou inconscientes, nos cantos de cada degrau?

Impossível dimensionar o que a escada significa para ele e o que ele representa para as escadarias. Além de um estilo de vida saudável e conectada ao extra-sensorial, desbravar escadas é para aquele menino grande uma prova de fé. Naquelas escadas entra em sintonia com seu Deus (com seus Deuses) e encontra as respostas que precisa para continuar em frente.

Assim como as águas de um rio, os degraus de uma escada nunca são os mesmos. A cada vez que se pisa em um degrau, por mais que ele lhe pareça um velho conhecido, a sensação é diferente, de descoberta.

Continue pisando firme nos degraus que escolheu para si, por que mais dia menos dia há de encontrar o guardião das escadas que atende pelo nome de Carmelino. E quando esse dia chegar, preste bastante atenção, pois suas escadas nunca mais serão as mesmas.


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