Daniel Campos

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09/12/2010 - Capítulo 60

O tão esperado reencontro

Durante o sono, o perispírito de Sebastian é conduzido por Jhaver até um lugar do plano superior que não tem nome na Terra. Um bosque bonito, todo orvalhado, repleto de relva e pássaros. Depois de uma pequena conversa, deixa-o sentado nas raízes de uma árvore frondosa. O promotor não entende a razão daquela viagem espiritual, mas, a pedido de seu protetor espiritual, aguarda algo ou alguém naquele lugar desabitado.

Ao contrário de tempos passados, Sebastian já não questiona ações alheias, tampouco se nega a fazer o que lhe é pedido. Confia plenamente nos seres de luz que o rodeiam. Não há outros espíritos ali, naquele bosque, mas uma natureza intacta e exuberante capaz de renovar as forças de encarnados e desencarnados. E é esse frescor que ele tenta aproveitar ao máximo. Está descalço, pisando em folhas caídas.

Mesmo o mundo físico sendo reflexo do espiritual, o promotor não se lembra de ter estado em um lugar como aquele. Mesmo durante as aventuras de criança vividas ao lado de seu avô parece não ter se integrado à natureza daquela forma. Talvez, em razão de seu ritmo acelerado, concentrou-se mais nas aventuras do que no meio em que elas aconteceram. Os cheiros, os perfumes, as cores, enfim, tudo ao redor ganha em dimensão e interage com o seu perispírito em diferentes graus energéticos.

Mesmo sendo um católico praticante, Sebastian viveu sem perceber que tudo, até mesmo a matéria, é feito de energia. Ou seja, de pensamentos a objetos, de emoções a plantas, de desejos a pedras, tudo tem origem energética e desencadeia energia. Na verdade, os encarnados percebem a matéria como algo sólido porque as vibrações da energia são tão rápidas que não conseguem percebê-las com sentidos corporais. Já no plano espiritual essa interatividade é mais simples.

Reflexões e descobertas à parte, Jhaver surge trazendo uma pessoa pela mão. Uma mulher de cabelos soltos, vestida com uma tiara de flores e uma túnica branca. É Malena que, com uma luz muito forte em torno de seu corpo, surge numa beleza incomparável.

Ele chora. Ela chora. É a primeira vez em que eles se encontram, conscientemente, num plano mais elevado. Embora seu corpo físico sofresse as conseqüências dessa sonoterapia prolongada, seu espírito se renovou. Tanto que sua luz de espírito evoluído começou a ter seu brilho restaurado.

A mudança comportamental de Sebastian, o aprofundamento de sua fé e o jejum que se propôs também lhe conferiram uma luz especial. Durante o encontro daqueles dois, pode-se afirmar sem susto que o bosque se iluminou de uma forma nunca dantes vista, como se fosse primavera.

Jhaver, diante daquela situação, ficou como que um cupido, mas um cupido guerreiro, olhando de longe e vigiando o cenário contra uma possível cilada. Estão em um bosque um pouco afastado das colônias, mas estão em um território de luz. No entanto, os inimigos estão por todos os lados. E aquele encontro, aquela união, aquela comunhão de almas mexe com os interesses de habitantes da Terra e dos planos espirituais.

Tão logo a avista, Sebastian sorri como que não acreditando e corre ao encontro de sua amada, que por sua vez abre os braços.

Durante os primeiros momentos não há fala. Apenas abraços, beijos, olhares, juras, perjuras.

- Saudade!

- Saudade!

Duas almas gêmeas, complementares em todos os aspectos, que se buscam por séculos e séculos, carentes da mesma saudade.

Uma saudade que é tenra e avassaladora ao mesmo tempo, energia em movimento.

- Que bom encontrar você, ainda mais em um lugar tão bonito.

- Até hoje eu não entendi porque nos afastamos tanto assim. Só sei que não quero ficar longe. Nunca mais.

- Sofremos alguns golpes, lembra-se de...

- Não! Não vamos falar do passado. Se começarmos a falar de coisas ruins nossa vibração será alterada de modo que teremos de retornar para nossos corpos físicos.

- Tudo bem. Estou maravilhado de estar aqui e não quero que esse momento acabe. Como você está meu amor?

- Estou um pouco confusa e fraca, mas bem. Parece que fiquei anos e anos distante de tudo. Costumava freqüentar o plano superior, desempenhar minhas tarefas, no entanto, dessa vez foi diferente. É como se eu tivesse naufragado em um mar sem fim e ficado à deriva por dias, semanas, meses...

- O importante é que estamos aqui, juntos, dispostos a renovar nossos sentimentos.

- Foi tudo um erro. Fiz mal acreditando em quem não merecia. Precipitei-me. Julguei. Deixei-me levar por coisas ruins, como ciúme e insegurança. Por favor, perdoe-me.

- Também lhe peço perdão, afinal, eu fui me perdendo dos planos de Deus, priorizando outras coisas que não a nossa felicidade. Quando somos tudo, precisamos de tão pouco...

- Você está bastante diferente. Mas eu sempre acreditei que existia outro Sebastian escondido por detrás daquele promotor castigador...

- Nem me fale em castigador.

- Quem diria que deveríamos o nosso reencontro aquele que um dia foi o senhor dos castigos. Jhaver me ajudou muito nesse período em que praticamente perdi a noção de tempo e espaço.

- Ele tem sido um grande amigo. Talvez o maior de todos que eu já conheci.

- Graças a ele vamos ter uma segunda chance.

- Só precisamos ter um pouco de paciência.

- Meu Deus, você falando em paciência. Que milagre.

- De fato, milagres existem. Está quase no dia da gente se reencontrar fisicamente falando, de voltar a morar junto, de buscar os sonhos que deixamos para trás.

- Estamos sonhando juntos outra vez. Isso me dá ânimo. Aliás, isso me dá vida. Vida nova.

- E dessa vez será para sempre.

- Para sempre.

Durante o diálogo, Sebastian começa a sentir algumas sensações de mal súbito. Sensações que vão se agravando. É como se perdesse energia rapidamente atacado por outra fonte tão ou mais poderosa. Malena se assusta. Ele sofre no plano espiritual e terreno. Seu perispírito esvai enquanto seu corpo, deitado na cama, sua, agita-se e delira em meio a uma febre alta.

Ela o abraça na tentativa de transferir o máximo de energia possível. Essa medida o protege, mas não interrompe a ofensiva, fazendo com que ele enfraqueça de forma gradativa. Está difícil conter aquele ataque. Ela senta naquela relva e apóia a cabeça do marido em seu colo. Ela pede para que ele resista, para que lute contra aquilo, para que fiquem juntos.

Aquela queda é resultado das vibrações negativas que sua mãe está transmitindo contra ele. Está na cozinha de casa, rodeada de louça suja, carne podre sobre a pia, facas, bebidas e moscas, rezando para sua derrota. Quer que ele seja condenado no tribunal de qualquer jeito, como punição por envergonhar a família.

Falando com forças que desconhece e com os retratos de Sebastian estampado nas páginas dos jornais nas mãos, diz que se não for para o filho ficar ao lado dela, que morra de uma vez. Diz que o filho é ingrato, que a abandonou. Com palavras fortes, renega o filho que já havia renegado por meio de práticas condenáveis durante anos e anos.

Jamais foi uma mãe no sentido completo do que essa denominação representa. Tentou a todo custo controlar a vida de Sebastian, comandar suas decisões, fazer seus caminhos. Fracassou como mãe e como proprietária daquele menino que virou homem sem que ela percebesse.

Ela nunca se conformou com o afastamento, com a distância entre ela e o filho. Nunca admitiu a derrota. E passou a alimentar calúnias, injúrias, truques, golpes, tudo o que pudesse prejudicar Sebastian. O pai, covarde como só, escondeu-se atrás da figura materna, usando-a como escudo e espada em vários momentos.

A violência usada pelo pai na criação de Sebastian só trouxe distância, mágoa e a demonstração do quanto era fraco e despreparado para a paternidade. O tempo todo se fez de vítima. Vítima de um filho que conseguiu mais conquistas materiais, espirituais e morais que o próprio pai. E isso o deixava doente, com inveja, com raiva, com ciúme.

A mãe atribuía à culpa de tudo isso a Malena, uma mulher que virou a cabeça de seu filho. Na verdade, uma mulher que lhe deu ainda mais força e rumo. Uma mulher com dois filhos, separada, médium, independente. Era tudo o que aquela senhora com espírito aristocrático jamais desejou para seu filho. Tanto que ficaram juntas, no mesmo ambiente, pouquíssimas vezes.

Olhares indiscretos e declarações maldosas, por parte da mãe de Sebastian, impediram a construção de uma convivência saudável e, até mesmo, possível.

Esse sentimento todo era destrutivo tanto para quem o gerava quanto para quem o recebia, no caso, Sebastian, uma vez que umbralinos se alimentam desse negativismo. A emoção, o sentimento, o pensamento são energias e assim geram ondas vibratórias, impulsos. Tudo que percebemos ou consideramos gera uma massa de energia, com forma sutil que não é visível a olhos nus. Cada emoção desenvolvida dá origem também a uma formação de energia.

Uma formação que pode ser tanto para o bem quanto para o mal.

A raiva de sua mãe era uma arma e tanto contra Sebastian.

Considere que quanto mais denso e nocivo for o pensamento e emoção, mais tóxica será a energia liberada para o ambiente. Só que essas energias passam despercebidas pela grande maioria da população, pois não têm cheiro, não têm cor, não podem ser vistas e são silenciosas, principalmente para quem não acredita nesse universo.

Por sorte, há não só quem acredite como quem viva esse universo.

Acompanhado de Klaus, Jhaver desce até a casa da mãe de Sebastian para interromper aquelas orações. Num primeiro momento, os dois emanam energia a ponto de formar um campo de força vibracional, impedindo que aquelas ondas de pensamento cheguem até o alvo preterido.

Em seguida, enfrentam espíritos ruins que estão ali. São três umbralinos que ficam muito próximos daquela mulher, provocando-a e atiçando ainda mais sua raiva e seu ódio, dizendo coisas que redimensionam suas atitudes.

É como se a mãe de Sebastian fosse um terreno fértil para espíritos das sombras cultivarem o ódio, o desafeto, o rancor, a maldade. E quanto mais deixasse ser habitada por essas energias, mais devastada ficava. No meio de tantas pedras e ervas daninhas, de um solo pobre e periférico, não é fácil florescer nada.

No fundo, acabava sendo uma vítima de si própria. Mas uma vítima que precisava ser combatida. Como não seria fácil fazê-la aceitar o filho como é, era necessário impedir que o prejudicasse ainda mais.

Por fim, depois de neutralizar as energias e limpar o ambiente, fazem aquela mulher adormecer. Não era uma solução definitiva, mas teriam paz por algum tempo.

No entanto, estava comprovado de que os inimigos não perderem tempo e não pouparão esforços para separar Sebastian de Malena.

Afinal, foi só a felicidade voltar a brotar para o mal ganhar força.


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