22/04/2010 - Capítulo 14
Frente celestial
Sebastian fala desesperadamente, gesticula, gageja, levanta, soluça, senta, berra, torna a levantar, engasga, debate...
Valentina pede para ele se acalmar, tomar um banho e vestir uma roupa azul enquanto ela conversa com Malena. Diz saber o quanto ele está confuso, mas salienta que precisa dele forte, tranquilo.
Ele quer conversar mais, no entanto, ela precisa se preparar. Vai reunir amigos e fazer uma corrente de oração durante a noite. Explica que precisa bloquear esse castigador, entender suas razões.
Sebastian quer saber mais detalhes e ela insiste não é hora para conversas, mas para ação. Garante que no momento certo ele saberá tudo o que desejar. Por hora, só pode revelar que o castigador é mais forte do que ela pensava. Além da alta concentração de energia que dele emana, a sua fala e seu comportamento são requintados. Sinais de evolução.
Ele avisa que vai ter com o padre, buscar ajuda. Ela diz ser inútil. Que de nada adianta usar um sacerdote limitado como monsenhor Mariano contra um anjo castigador. Diz que a única forma de enfraquecê-lo é descobrir e anular o sentimento que o alimenta.
Sebastian, mesmo não gostando de ter as mãos atadas, obdece os conselhos da sogra. Fica mais de uma hora debaixo do chuveiro. Quer relaxar, colocar os pensamentos em ordem e, ao mesmo tempo, fugir de um novo embate com Malena. Ela o havia colocado para fora de casa, ameaçado levá-lo à polícia...
O coração pulsa agoniado. Coberto de insegurança, coloca uma roupa azul e procura Malena. Ele abre a porta devagar, sente um perfume forte de flor e o medo de uma nova discussão se dissipa no ar.
Depois da conversa com dona Valentina, Malena está mais calma, como que anestesiada. Parece ter se esquecido de boa parte das coisas ruins que passou. Logo que ela o vê, pergunta onde estava, por que demorou e diz querer colo.
Os dois se beijam calorosamente. Eles começam a fazer amor, mas no meio do ato ela o chama de Hernandez. Na verdade, não é ela, mas um daqueles espíritos do umbral que seguem o rastro do castigador. É como se ele marcasse o castigado e os outros, como carniceiros, chegassem para tirar proveito.
No impulso, Sebastian começa a enforcar Malena e ela lhe dá um tapa de estalar.
É o necessário para ela passar muito mal e começar a sentir contrações e sangrar.
Nesse momento, uma voz mais doce, vinda da boca de Malena, conversa com Sebastian. Diz para ele não se assustar, que ela é uma amiga espiritual de Valentina, que faz parte de seu grupo de oração.
Ele está tomado por sentimentos diversos. Ela coloca dois dedos em sua testa tentando acalmá-lo enquanto explica que vão levar Malena para o Hospital da Cura. Um centro médico capaz de cuidar de encarnados e desencarnados. Avisa que fará o possível para salvar o bebê.
Afoito como ele só, Sebastian se desespera, diz que vai chamar a sogra, um médico, uma ambulância. Parece não acreditar que existe um centro médico em outro plano. Mas aquela mulher desconhecida repete Valentina dizendo que não há tempo para explicações.
Querendo confortá-lo, avisa que o perispírito da sogra está ali, bem como de outras pessoas que os auxiliam. A única coisa que ele pode fazer nesse momento é se deitar ao lado da mulher. Irão precisar da energia dele, ou melhor, do amor que sente por Malena para salvar mãe e filho.
Ele faz o que ela sugere e começa a rezar baixinho, pede com fervor para que não os deixem morrer.
O espírito que se diz chamar Giulia e ser médica promete cuidar de tudo. Também alerta Sebastian sobre o fato de o corpo de Malena ficar frio por um período da noite. Afinal, o corpo vai ficar vazio por algumas horas. E que a única coisa que ele pode fazer é não cair em desespero, pois haverá pessoas ao seu lado para ajudá-lo.
Malena está numa cama de hospital cercada por médicos e enfermeiros. Toma injeções, soro e outros medicamentos. Na cama de sua casa, o sangramento cessa.
Sebastian desperta assustado e vê que Malena ainda dorme. Reza. Pouco depois, ainda com os olhos fechados, ela o abraça e diz que está indisposta, que passou a noite num hospital, que seu braço dói das injeções. Sebastian afasta as cortinas, o sol invade o quarto e ele vê nitidamente as marcas das agulhas.
Como São Tomé, as toca e cai em choro.
Valentina entra no quarto com Micaela e pergunta se está tudo bem. Em seguida, deixa a neta fazendo companhia para a filha e inventa uma desculpa para chamar o genro para conversar.
Falando baixo, pede para Sebastian não contar nada do que aconteceu ontem para Malena. É preciso tomar essa precaução para ela não se preocupar, tampouco se aborrecer. Havia corrido tudo bem no hospital, mas seu estado de saúde continua bastante frágil.
Ele não aceita essa situação. Quer partilhar tudo com a esposa.
Valentina pede para que ele tenha paciência e fé.
Ela diz que é uma tarefa quase impossível combater um castigador, mas que eles estão empenhados em fazer o melhor. Alerta que já descobriu quem o fez feder. Porque é necessário que uma pessoa desencarnada faça um encarnado cheirar mal para chamar atenção de um anjo castigador.
Sebastian pergunta quem é a tal pessoa.
A sogra diz se tratar de uma mulher de cabelos curtos e ossos finos, que tem uma mancha do lado esquerdo da boca e usa um brinco de pérola negra.
Ele parece não acreditar. É a descrição de sua avó materna. Nunca falou dela nem mesmo para Malena. Não ficara nem mesmo com uma foto dela em suas coisas.
Cada vez mais, acredita nesse mundo paralelo. No entanto, não consegue entender por que sua avó lhe quer mal. Ela sempre gostou tanto dele.
Valentina diz ser muito importante ele se lembrar do motivo que a levou a fazer isso. É necessário agir rápido. Por hora, pede para que saia e compre um perfume amadeirado e uma roupa nova, de cor verde clara, para Malena. De preferência uma que não deixe as costas descobertas.
Tais coisas são necessárias para proteger mãe e filho das investidas dos umbralinos.
Ele quer saber quem são esses habitantes do umbral, mas Valentina comenta mais uma vez que não há tempo para explicações em meio a esse clima de guerra. Precisa das compras imediatamente.
Sebastian se programa. Levará Malena até o trabalho e em seguida comprará o lhe foi pedido. Depois de cumprir essas tarefas, irá procurar o Ministério Público para pedir a revogação de sua punição.
Com os olhos serenos de sempre ela diz que vai dar tudo certo.
Sem conseguir encará-la, Sebastian pede desculpas por não ter acreditado nela antes.
Dona Valentina sorri, balança a cabeça, chama-o de filho num abraço sem mágoas e diz que está tudo bem, que tudo nessa vida tem à hora certa de acontecer. E que a hora deles havia chegado.
Observação do autor: O próximo capítulo será postado no dia 27 (terça-feira)
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