01/12/2009 - Camomila, messieur
Garçom, por favor, traga-me, com as devidas urgência e discrição, um chá de camomila. Nem muito amargo nem muito quente. A minha última noite não foi nada agradável. Insônia, dores, pensamentos negativos, radioativos e até mesmo, degenerativos. Preciso que o senhor, num golpe de mestre, retire todas as propriedades medicinais possíveis da Matricaria chamomilla com uma leve fervura. De preferência, 98º C. Preciso de seus efeitos calmantes e digestivos. Essa gastrite nervosa já me acompanha há algumas estradas.
Quero sentir ao longo da xícara toda a doçura desta erva que é mais antiga que a própria humanidade. Não conte para ninguém, mas esse chá era o preferido dos faraós do antigo Egito. Eu lhe pedi discrição, mas pode deixar a porta da cozinha entreaberta para sopitar, por aqui, um pouco da intensidade de seu aroma. Só com o cheiro espero atenuar minhas dores na coluna, ciáticas e reumáticas. Sei que é conseqüência do nervoso, mas o meu pedido irá interferir das minhas dores musculares ao apetite dos vermes que devoram as paredes do meu intestino.
Se possível, não sei se o senhor tem isso aqui, gostaria que me trouxesse um buque de flores de camomila. Sabe como é, preciso acalmar um coração cansado de sofrer. Mas, insisto, seja o mais discreto possível. Não quero chamar atenção de ninguém para a má fase que vivo. Se você puder trazer algumas toalhas umedecidas com o tal chá, minhas olheiras lhe serão gratas por um bom tempo. Traga-me também algumas flores secas para viagem. Quero beber e ser bebido. Quanto à conta, fique com um galho de camomila... Dizem que ela chama dinheiro.
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